Publiquei um livro; e agora?
De sonhar ninguém se cansa, de viver, às vezes: a transição de escritora amadora à realidade de autora publicada.
por Marina Bomeisel
Eu amo escrever e, desde que me conheço por gente, quero ser uma grande autora, conhecida e bem-quista na literatura. Eis que, em julho de 2023, realizei meu sonho: publiquei, pela Editora Patuá, um livro de contos chamado Da Vida e da Morte [(Des)amor; ir e vir; tempo; o resto; morte; o céu azul].
Receber o e-mail do editor Eduardo Lacerda dizendo que tinha adorado meu livro e que gostaria de publicá-lo foi um dos momentos mais maravilhosos da minha vida. A partir de então, assinei um contrato, revisei os contos, comentei sobre aspectos da edição, escolhi o design para a capa e marquei a data para o lançamento. Tudo foi feito com muita dedicação e carinho de ambas as partes, minha e da editora.
Lancei meu livro no dia 8 de julho de 2023, na Livraria Patuscada, na presença de muitos amigos queridos e algumas pessoas que eu não conhecia, mas que tinham se interessado pelas postagens da Patuá no Instagram – meus primeiros fãs!
Depois disso, parei de cuidar do meu livro e ele está lentamente caindo em esquecimento.
Na minha formação como escritora, em todos os eventos literários e cursos que fui, sempre ouvi que “livro não se vende sozinho”. É preciso uma campanha, atitude, lábia para propagar os escritos e convencer as pessoas a comprar uma obra, e eu não sei me vender.
Tenho muito orgulho de cada conto que está no livro, amo a maneira com que ele foi diagramado, sou apaixonada pela capa e, honestamente, acho o título bastante intrigante; mesmo assim, não sei como falar bem dele sem sentir que estou soando pedante. Como convencer as pessoas de que é uma leitura boa, de que elas vão gostar?
Em novembro do ano passado, fui à FLIP (Festa Literária Internacional de Paraty) com o meu irmão, numa oportunidade incrível de conversar com outros autores, vender e autografar meu livro. A ansiedade e a vergonha, contudo, foram maiores do que eu, e não consegui nem ter coragem de tentar convencer alguém a comprar meu livro.
Descobri, assim, a decepção de realizar um sonho e, ao mesmo tempo, não o cumprir por completo. Acho que isso deve fazer parte de ter vinte e poucos anos. Outro dia, eu estava conversando com uma amiga que recebeu uma proposta de trabalho muito interessante para ela, e a vi confessar que essa possibilidade lhe dava medo. Percebi que parte do meu não saber vender o livro também está relacionado a um certo medo.
Mas medo de quê? De dar certo? Ou de tentar muito e, no fim, dar errado mesmo assim?
E se eu começar a sair na rua fazendo propaganda do meu livro e, apesar de todos os meus esforços – que, no momento, são quase nulos – ninguém quiser comprar?
Por que realizar sonhos é tão assustador?
A transição de ser um jovem sonhador e se tornar um adulto que realiza é incerta e complicada. Crescemos sonhando com o que vai ser do futuro e, de repente, do mais absoluto nada, estamos com vinte e tantos anos. Estamos no Futuro. E agora?
Este texto é um ensaio sobre juventude e sonhos, e, ao mesmo tempo, uma tentativa de vender meu livro. Então, segue uma propaganda, como se este fosse um vídeo no YouTube interrompido por uma publicidade:
Da Vida e da Morte:
Este livro de contos, que trata da excentricidade da vida e da tensão da morte, divide-se em seis temas:
[Des]amor: Relacionamento; o início e o fim dos amores; expectativas, medos e dores.
Ir e vir: O dia a dia das pessoas no metrô, no trem, no ônibus; a singularidade do cotidiano.
Tempo: Literalmente Time, do Pink Floyd.
O resto: Trechos da vida; momentos estranhos e pensamentos aleatórios com os quais temos de lidar todos os dias.
Morte: O que significa a vida? O que significa morte? Linhas entre o matar e o morrer.
O céu azul: Lembrança de que também há alegria na vida.
Não há ambição nenhuma em deixar essa divisão clara. Afinal, na vida nada é definitivo – a não ser a certeza da morte.
Cada conto do livro tem uma pessoa passando por uma mudança. Os temas variam entre as palavras que estão no próprio título – [(Des)amor; ir e vir; tempo; o resto; morte; o céu azul] – e refletem diretamente o estado de ser jovem: descobrir o amor; viver boa parte do dia no transporte público; lidar com o tempo que passa e não espera por ninguém; sobreviver a pensamentos intrusos e lidar com o tédio; enfrentar a noção da morte; e, no fim das contas, ter esperança e ver que existe um lado bom, nem que esse lado seja apenas o céu azul.
Falando sério, parece legal, não?
Enfim, voltando à programação normal, ser um jovem adulto é muito angustiante.
Nós crescemos ouvindo que devemos buscar nossos sonhos, mas ficamos paralisados quando esses sonhos se tornam realidade e o resultado não é exatamente o que esperávamos. A verdade é que realizar um sonho não significa que tudo será fácil ou perfeito a partir de então. Muitas vezes, há uma sensação de vazio após o primeiro sucesso, um medo de que, ao tentar mais uma vez, o fracasso seja ainda mais doloroso.
Escrever continua sendo uma paixão, mas eu pensava que, ao publicar meu primeiro livro, eu fosse encontrar um caminho claro como escritora, que meu futuro seria traçado distintamente, bem na minha frente, e que eu saberia o que fazer para me tornar uma autora de sucesso. Que aflitivo é encontrar apenas inseguranças e ainda mais questionamentos sobre quem sou e quem me tornarei!
Busco, então, me conectar com jovens que, assim como eu, se encontram na beira de um abismo e não sabem se, ao darem um passo, despencarão para uma morte horrível ou descobrirão que podem voar e surfar nas nuvens.
Apesar de todo o medo e de toda a ansiedade, arriscar faz parte de existir. Quem não arrisca, não petisca; só cresce quem vive novas experiências. Portanto, vamos nos dar as mãos e arriscar ver até onde os sonhos e os saltos de penhascos podem nos levar.
Gostei muito da reflexão ♡